Mapa revela atuação policial concentrada na periferia e tímida em áreas nobres

Levantamento do Ministério Público de São Paulo mostra discrepância na atuação policial entre as regiões da capital paulista, com ocorrências concentradas na periferia e centro da cidade.

De acordo com os dados apresentados, as ocorrências estão concentradas principalmente na periferia e no centro da cidade.
De acordo com os dados apresentados, as ocorrências estão concentradas principalmente na periferia e no centro da cidade. (Foto: TrendQuill )

Mapa do tráfico revela polícia focada na periferia e tímida em áreas nobres, de acordo com um levantamento elaborado pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP). O mapa, que compila 17.091 ocorrências de tráfico de drogas registradas entre janeiro de 2020 e fevereiro de 2023, evidencia uma discrepância na atuação policial entre as regiões da capital paulista.

 Bairros como República e Santa Cecília, localizados na região onde está situada a Cracolândia, lideram o número de registros, com 655 e 547 boletins de ocorrência, respectivamente. Além disso, destacam-se a Brasilândia, na zona norte, com 638 ocorrências, Sapopemba, na zona leste, com 552, e o Capão Redondo, na zona sul, com 525.

Surpreendentemente, mesmo somando os registros dos 10 distritos mais valorizados da cidade, não se chega a 400 ocorrências de tráfico de drogas. Por exemplo, no bairro do Brooklin foram registrados apenas oito casos, em Moema foram 24 e no Itaim Bibi, 37.

Segundo Arthur Pinto de Lemos Junior, secretário especial de Políticas Criminais do MPSP, o objetivo da ferramenta é proporcionar uma análise mais ampla do cenário do tráfico na capital paulista, contribuindo para o desenvolvimento de políticas públicas relacionadas à segurança e urbanização. Lemos Junior ressalta que o mapa permite visualizar áreas com múltiplas ocorrências e identificar locais sujeitos a alterações devido ao policiamento ostensivo.

No entanto, especialistas apontam que o mapa reflete mais as ações policiais do que os principais pontos de atuação dos traficantes. André Zanetic, cientista político membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, destaca que a ferramenta é baseada nos registros em delegacias, o que significa que ela reflete onde a polícia está mais focada, em vez de indicar onde o tráfico é mais intenso. Zanetic ressalta que o mapa tende a apresentar concentrações de tráfico em regiões onde é mais fácil realizar flagrantes, como a Cracolândia, ou em áreas de renda mais baixa.

Outra observação importante é a questão racial envolvida nas ações de combate ao tráfico de drogas. Rafael Alcadipani, especialista em Segurança Pública e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV), aponta que existe uma desproporcionalidade nas prisões relacionadas ao tráfico, com negros sendo mais frequentemente presos com quantidades maiores de droga do que brancos, que geralmente são considerados usuários. Alcadipani destaca ainda que bairros nobres possuem mais estrutura e presença policial, o que dificulta a atuação do tráfico em locais visíveis.

José Vicente Filho, ex-secretário nacional de Segurança Pública e coronel reformado da Polícia Militar, ressalta que a maioria das apreensões de drogas ocorre nos pontos de chegada, onde a polícia pode atuar através de serviços de inteligência. Nos bairros nobres, onde os consumidores recebem a droga em casa, as apreensões tendem a ser menores, já que não há traficantes atuando nas ruas.

A Secretaria da Segurança Pública (SSP) afirmou, em nota, que mantém colaboração contínua com outros órgãos, incluindo o MPSP, e acredita que o acesso a mais dados sobre a criminalidade possibilita a adoção de políticas de segurança mais eficientes. No entanto, a SSP não forneceu explicações sobre o motivo da baixa incidência de ocorrências em bairros nobres.

por Redação

TrendQuill

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